sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

ACONSELHAMENTO

Estou aqui, mais uma vez, às voltas com mais uma irmã em Cristo, aconselhando-a. Ela, meio que desesperada, me chamou hoje no chat do Facebook. Pela primeira vez ela o fez para tratar de assuntos relacionados à fé. 

Ela me comunicou que seu “pastor” avisou que agora em diante aderirá às Campanhas e unções neopentecostais. Conhecedora da verdade das Escrituras, esta irmã se encontra terrivelmente incomodada e me pergunta: 

“E agora, para onde vou? Em minha cidade, não temos Igrejas bíblicas; temos a ***** (denominação conhecidíssima em todo o País), mas que está pior que uma Universal! A igreja aonde congrego era a última que ainda resistia às heresias do neopentecostalismo, mas agora, abraça tais doutrinas falsas, e comunica o fato de púlpito! Para onde vou, irmão Zilton?”.

Confesso que não tive o que responder de imediato! 

Sou uma pessoa que aconselha muitas pessoas neste Brasil através das redes sociais, e passo por este problema: para onde enviar as ovelhas feridas? Aonde irão congregar? Em alguns locais, nem mesmo reuniões adenominacionais existem (os chamados pejorativamente de desigrejados, e alguns são realmente caricatos e dignos de tratamentos pejorativos, mas me refiro aos grupos sérios). As Igrejas pentecostais históricas se rendem aos moveres antibíblicos do neopentecostalismo, e até algumas chamadas “igrejas tradicionais”, algumas que até Cessacionistas são, estão se dobrando a certas práticas que me desautorizam a enviar qualquer ovelha para lá!

Então, surgiu em minha mente uma pergunta, e a lancei no meu mural do Facebook: Você é católico mas assim como Lutero, lendo as Escrituras, descobriu a salvação pela fé e creu em Cristo. O problema é que em sua cidade ou localidade só tem a Igreja Católica (da qual você  ainda faz parte), uma Igreja Mórmon, um Salão do Reino das Testemunhas de Jeová e uma Igreja(sic!) Universal. Em qual destas você congregaria?

A maioria das respostas que recebi no Face foi: “eu congregaria em casa!”. E eu concordo! Não é possível encontrar-se com Cristo e permanecer congregando em uma “igreja” aonde o Evangelho genuíno, o puro leite não falsificado, não é pregado.

Mas... E se na placa da Igreja em questão está escrita “IGREJA EVANGÉLICA”, e mesmo assim lá não é pregado o Evangelho verdadeiro? Posso congregar em uma “igreja” destas??

Gostaria de seguir o mesmo raciocínio: se numa Igreja Mórmon, por exemplo, aonde a doutrina verdadeira não é pregada, eu não devo congregar, por que deveria fazê-lo em qualquer outra, mesmo que debaixo do status de “Evangélica”, aonde a verdade igualmente não é pregada?

No caso, qual a diferença entre pregar uma falsa doutrina dentro de uma “igreja” Mórmon e dentro de uma “igreja” cuja placa diz ser Evangélica? A placa santifica a doutrina? O nome, o status, justifica o erro?

Por que uma heresia pregada em uma igreja como a Mórmon ou como a das Testemunhas de Jeová é uma heresia, mas a mesma heresia, ou pior, pregada dentro de uma “igreja” que se autodenomina “Evangélica” é perdoável, suportável e até justificável?

Por que temos tanto cuidado e pavor em mandar um novo convertido para congregar em uma Igreja Mórmon, considerando as heresias que são pregadas lá, e não temos o mesmo cuidado e pavor ao permitir que ele congregue em uma “igreja” apóstata?

Vale a pena aconselhar uma pessoa assim a não congregar, ficar em casa, e correr o risco de vê-la esfriar da fé ou mesmo desviar-se da fé por não estar unida a outras pessoas que comungam da fé cristã, ou correr o risco de mandá-la a uma “igreja” apóstata e ela se desviar da sã doutrina, abraçando doutrinas de homens e de demônios?

É uma pena, mas... antigamente, diante de um novo "convertido", aconselhávamos: "procure uma Igreja vangélica próxima a sua casa", mas hoje este conselho é impraticável, já que o joio tomou conta da maioria das "igrejas"a ponto de não visualizarmos mais o trigo!

Assim, se eu puder aconselhar a esta irmã, será:

Fique em casa. Procure um grupo adenominacional sério, e passe a congregar com eles, nos lares. Caso não exista en seu meio um grupo assim, procure criá-lo junto com alguns outros irmãos que anseiam pelo Evangelho genuíno, um grupo de oração e estudo da Palavra em seu lar. Só não se meta em, no futuro, querer transformá-lo em "igreja". Se um dia o Senhor levar uma Igreja séria à sua Comunidade, quem sabe você e seu grupo encontram um novo ambiente de adoração genuína ao Senhor...

Suporte, irmã, a perda! Sei que é difícil, dificílimo, abandonar uma comunidade aonde fizemos muitas amizades, da qual e dos quais até a nossa vida social depende. Entretanto, mais vale a perda do que conviver com o erro, achando-se que estamos adorando a Jesus...

Sirva a Cristo, e não desista. Por mais doloroso que seja, Cristo é a melhor opção!

Desculpem, mas minha consciência não permite dar um conselho diferente! Para mim, encaminhar a ovelha para um covil de lobos é um pecado gravíssimo, que eu farei tudo o que me estiver ao alcance para não cometer!

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

UM ABISMO CHAMA OUTRO ABISMO, E UM PEQUENO DESVIO DOUTRINÁRIO GERA UMA GRANDE HERESIA

Em cálculos de engenharia, a precisão é imprescindível, pois se abrirmos um desvio de 1 mm no início, chegará a um buraco do tamanho do Universo no infinito! Certamente em nossas próprias casas, em pequenas reformas e "puxadinhos", já erguemos paredes sem grande precisão de esquadro, e vimos o quanto estão fora de alinhamento quando assentamos as pedras de cerâmica.

Agora imaginem, por exemplo, uma estrada de ferro em construção, cujos engenheiros cometem um minúsculo erro de cálculo, fazendo com que a cada metro ocorra um afastamento para fora de 1 mm entre os trilhos, perdendo a exatidão da bitola. A cada 100 km de estrada, os trilhos se afastam 100 metros um do outro! Dependendo do tamanho final da obra, é só fazer um cálculo simples para se chegar ao tamanho final do "aleijão".

Em estradas de ferro diicilmente ocorrem tais erros, pois a BITOLA é constantemente usada e verificada a distância entre os trilhos, sem falar que a olho nu o desvio seria facilmente observado e rapidamente corrigido. Mas não podemos afirmar o mesmo em relação a estradas, avenidas e ruas. 

Na cidade aonde eu moro, João Pessoa, sua principal artéria, a av. Epitácio Pessoa, que vai do litoral ao centro da cidade, foi vítima de um erro destes. De acordo com o historiador Arion Farias, o plano do então presidente (Governador) João Pessoa era construir a Avenida Epitácio Pessoa, começando pelo então inexistente Busto de Tamandaré (hoje situado na orla da Praia de Tambaú, ponto de referência e de encontro: "a gente se encontra no Busto de Tamandaré", dizem alguns) e acabando no Centro, onde começa a atual Avenida Dom Pedro II, na Praça João Pessoa (que, na época, era chamada de Praça Comendador Felizardo), a chamada "Praça dos Três Poderes", aonde ficam as três sedes estaduais dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo. Segundo o historiador, “A estrada começou da praia para o Centro, mas um erro do topógrafo em DOIS GRAUS acabou desviando (o trajeto). Em vez de andar para a esquerda, andou para a direita, e fez com que a Epitácio Pessoa viesse a morrer na Praça da Independência. Isso está no relatório de Ítalo Jofre (então secretário municipal da pasta relativa a obras), na página 17, na linha 6, documento que hoje está no Espaço Cultural”, observou o historiador Arion Farias. Depois disso, o governador José Américo calçou a via e seu sucessor, Flávio Ribeiro Coutinho – parente de Renato Ribeiro Coutinho –, asfaltou” - Fonte: http://migre.me/n9VZC 

Vocês já tiveram nas mãos um transferidor, a régua em forma de semilua que mede os ângulos? Certamente o usaram nas aulas de cálculo e trigonometria. Dois graus são uma medida mínima! Mas para quem conhece a cidade de João Pessoa e o tamanho da av. Epitácio Pessoa, sabe a diferença entre terminar na Praça da Independência e na Praça João Pessoa! E tudo começou com ínfimos dois graus de desvio!

As Escrituras são nossa bitola pessoal, e coletiva para a Igreja! São elas que evitam que nos afastemos para a direita ou para a esquerda (Js 1:7), obedecendo a advertência divina. Dois graus de afastamento pode fazer com que, ao chegarmos ao fim da estrada, percebamos quão longe estamos da porta do céu!!

O relativismo é o erro do topógrafo! Erro bastante comum, e muitas vezes proposital, de pastores, líderes e pregadores, que em nome do pragmatismo e dos resultados abrem mão da ortodoxia doutrinária. Tudo vale desde que os resultados jutifiquem! Um exemplo disso é o relativismo em relação à ordenação presbitero-pastoral. O abandono da observância aos requisitos mínimos claramente dispostos na Escritura (1 Tm 3 e Tt 1) gerou uma geração de pastores desqualificados, tudo em nome da "pregação do Evangelho" e do "ganhar almas". Não importava se o candidato não satisfazia às exigências mínimas da Escritura; o importante é que ganha almas, é carismático, toca, canta e prega, e a Igreja está precisando de um pastor ordenado (ungido) à sua frente, para conduzi-la!

Como um abismo chama outro abismo (Sl 42:7), o passo seguinte foi a ordenação feminina, praticada com aparência de piedade, mas uma franca desobediência às Escrituras. Já que os homens não se disponibilizam ao Ministério, vamos abrir para as mulheres! Seria o equivalente a, já que Samuel não vem, que Saul conduza o sacrifício (1 Sm 13:8-14)!

Hoje, já vemos a ordenação de homossexuais. E o importante, dizem eles, é que almas estão sendo ganhas, milagres estão sendo feitos, pelas mãos destes(as) pastores(as) homossexuais... E não sabemos aonde vai parar. Mas tudo começa com um desvio mínimo e imperceptível de 1 mm!!

Somos chamados à OBEDIÊNCIA, custe o que custar!! Não vivemos o "vale tudo" em nome de almas. Se o objetivo de Cristo fosse simplesmente ganhar almas, Ele teria descido da cruz e convertido todos os judeus de sua época, já que foi desafiado a isso: “desça da cruz, e creremos!” (Mt 27:42), mas Seu objetivo era obedecer aos planos do Pai e conduzir Sua Igreja a obediência similar! Saul não estava autorizado ou habilitado a oferecer sacrifícios, mesmo diante da demora ou ausência absoluta de Samuel , e o mesmo se aplica à nossa geração desobediente. Não importa os argumentos usados, por mais aparência de piedade que tenham! Nenhuma alma ganha, nem milhares delas, justificam a desobediência.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

JESUS, A MULHER SAMARITANA E O RETETÉ

Alguém pelo Facebook tentou me convencer que no texto de Jo 4:23, que diz “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem”, Jesus está profetizando a vinda dos "moveres do Espírito Santo", o Reteté... Lamentavelmente, tal afirmativa entra em confronto direto com o contexto, com a revelação progressiva, com o bom senso e com um monte de coisas mais... Na ansia de se provar o improvável, a arte da distorção bíblica se manifesta!

Repito o que muitas vezes já disse neste blog: sou PENTECOSTAL BÍBLICO, que busca seguir princípios reformados. Creio no Continuísmo dos dons espirituais, mas creio que os mesmos estão submissos às prescrições bíblicas para seu uso. O Espírito Santo, sendo Deus, inspirou a inerrante Escritura e não vai contradizer o que Ele inspirou, mesmo com seu atributo de Onipotência (tudo pode). Afinal, como Deus Ele não pode negar-Se a SI mesmo. Portanto, JAMAIS ele irá agir de forma contraditória àquilo que Ele mesmo escreveu!

Já fiz este desafio aqui no blog, também no meu Facebook, e o refaço: se alguém me mostrar UM TEXTO, UM ÚNICO TEXTO do Novo Testamento que mostre os apóstolos e a Igreja em reteté, ou ensinando sobre ele, ou relatando um ocorrido na Igreja Primitiva, ou mesmo uma citação nalguma obra dos Pais da Igreja que o relatem, eu me retrato publicamente, me converto ao neopentecostalismo e hoje mesmo mudo meu nome no perfil e no blog para EsquiZilton Canelinha de Fogo

Este texto que vos peço não precisa nem estar dentro do contexto. Basta ser do Novo Testamento (só não pode ser Atos 2, e o porquê eu explico em seguida), e pode ser um texto isolado mesmo, metade de um versículo. Mas precisa ser um texto claro, quem sabe doutrinário (nas cartas), e mostrar que era prática da Igreja no primeiro Século o mover do Espírito no estilo reteté!

Adianto-vos (o próprio reteteísta admitiu!): NÃO EXISTE TAL TEXTO!! NEM NOS APÓCRIFOS!!! NEM NO EVANGELHO DE TOMÉ, NEM NO DE MARIA MADALENA, NEM NO DE JUDAS!! Isso é invenção moderna, de uns trinta ou quarenta anos pra cá! Nem os Apóstolos, nem os Pais Apostólicos, nem os Reformadores, nem os Avivalistas, ninguém teve esta revelação!! Perdoem-me a ironia, mas considerando este fato todos viveram em trevas até meados de 1970! Somente os profetas do neopentecostalismo receberam a luz!! 

Achegue-mei a Cristo em 1982, e nesta década andei por muitas Igrejas Pentecostais dos sertões de Pernambuco e Paraíba, locais aonde havia exageros e falta de conhecimento biblido-doutrinário, mas NUNCA VI um único evento semelhante ao reteté! Somente no fim dos anos 90 pude presenciar as primeiras manifestações deste movimento.

Mas... Vamos analisar Atos 2, e ver que nele nada tem de reteté.

Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente veio do céu um ruído, como que de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam SENTADOS [καθημαι kathemai 1) sentar-se, acomodar-se 2) sentar, estar sentado, de um lugar ocupado]. E lhes apareceram umas línguas como que de fogo, que se distribuíam, e sobre cada um deles pousou uma. E todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem [nada fala sobre se levantarem e começarem qualquer balbúrdia, apenas falaram...] ... E outros, zombando, diziam: Estão cheios de mosto. Então Pedro, PONDO-SE EM PÉ [ιστημι histemi - 1) causar ou fazer ficar de pé, colocar, pôr, estabelecer 1a) ordenar ficar de pé, levantar-se] COM OS ONZE [o que demonstra que estavam e permaneceram sentados até aquele momento, e somente os doze apóstolos se levantaram na ocasião], levantou a voz e disse-lhes: Varões judeus e todos os que habitais em Jerusalém, seja-vos isto notório, e escutai as minhas palavras...” (At 2:1-14 - grifos e colchetes meus). SÓ NÃO ENXERGA QUEM NÃO QUER. Não houve nada nem mesmo parecido com o chamado reteté em Atos 2. Todos os 120 discípulos, e entre estes os 12 apóstolos, permaneceram sentados, em ordem, como convinha a um culto a Deus. Somente após serem acusados de estarem embriagados, PEDRO E OS ONZE SE LEVANTARAM. 

Os judeus eram acostumados a esta ordem em suas sinagogas e no Templo. Tenho um cunhado que é judeu, frequenta a Sinagoga em Recife, e já conversamos sobre o tema. Embora exista, no culto judaico, momentos de alegria e dança, o culto em si é ambiente de profundo respeito e contrição! Segundo ele, um mover pelo menos "parecido" com o reteté, e o sujeito é "delicadamente convidado" a se retirar da Sinagoga! Certamente, mesmo após a descida do Espírito o temor e respeito pelo culto dos 120 presentes no Cenáculo não se alteraram!

Como ninguém nunca me apresentou este ÚNICO TEXTO que tanto peço, que justifique biblicamente o reteté, permaneço com a Escritura, mapa seguro para o céu, lâmpada para os pés do crente e luz para o seu caminho (Sl 119:105). Em 1 Co 12 e 14 estão os textos que doutrinam a Igreja acerca do uso dos dons espirituais, e o texto termina categoricamente com "Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo [nesta orientação doutrinária] são mandamentos do Senhor. Mas, se alguém ignora isto, que seja ignorado. Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas, faça-se tudo decentemente e com ordem" (1 Co 14:37-40 - grifos e colchetes meus). Pronto!! Se não há NENHUM VERSÍCULO que mostre o reteté no NT, e Paulo afirma que o que fala são MANDAMENTOS DO SENHOR para o uso dos dons espirituais no culto, está claro a quem ou ao quê devemos obedecer!!

A alegria no culto, e extravasar esta alegria, pular, dançar na presença do Senhor etc não é antibíblica, desde que seja feita com ordem e decência, nos momentos adequados, e que não venham a atrapalhar a exposição das Escrituras, uma das partes mais importantes do Culto. Entretanto, qualquer manifestação carnal que é atribuída ao Espírito Santo chega a ser blasfêmia, por atribuir ao Espírito a ação da carne ou de demônios. Se atribuir a demônios a ação do Espírito Santo é o pecado imperdoável, atribuir ao Espírito a ação de demônios ou da carne também o é!

O reteté transforma o culto em um ambiente completamente irreverente, em nome de uma suposta liberdade do Espírito. Hoje, o crente tem mais reverência e respeito em uma sala de cinema do que no lugar que ele chama de Templo... No cinema, assistindo um filme profano, faz silêncio e presta atenção à mensagem do filme. Na Igreja, enquanto o pregador entrega a Palavra de Deus, sapateia, rodopia, grita, berra, urra, faz todo tipo de pantomima para não prestar atenção à Palavra e nem deixar mais ninguém ouvi-la!!

Além de tudo, Atos 2 NÃO É o único texto neotestamentário que trata dos dons espirituais. Foi o primeiro evento de descida do Espírito para a Igreja, e certamente os próprios crentes estavam atônitos, sem saber o que era aquilo. Os primeiros crentes certamente nem sabiam como usar corretamente os dons que recebiam. Aí o Senhor Deus se encarrega de inspirar Paulo, nos capítulos 12 e 14 da primeira carta aos Coríntios, para DOUTRINAR a Igreja, ensiná-la a usar os dons que Deus concedeu, dominar o seu próprio espírito e sua carne diante da ação do Espírito de Deus. Lembram que no AT já haviam "escolas de profetas"??
É aí que tudo complica, pois a orientação posterior de Deus (revelação progressiva) LIMITA a ação do próprio Espírito, ensinando que Ele age com ordem e decência, muito diferentemente do que ocorre em reuniões do reteté!! E por que razão o Espírito Santo inspiraria Paulo, mostrando como Ele agiria em nosso meio, decentemente e com ordem, e depois agiria de forma diferente??

Há tanta "ordem e decência" no reteté que as Igrejas mantêm obreiras estrategicamente a postos com toalhas, para cobrir a nudez das mulheres que caem com as partes expostas, graças à "ação (sic!) do Espírito Santo". Pessoas supostamente tomadas pelo Espírito Santo quebram objetos, caem umas sobre as outras... E no fim do culto, saem com os mesmos caráteres torpes,,, Conheço alguns que sapateiam a vigília inteira, mas o Espírito Santo não muda seus caráteres e continuam espancando esposas, adulterando, fornicando... Conheci um "vaso" que no culto rodopiava mais que um pião, mas fora dele assediava rapazes, numa prática homossexual abominável! Sabemos que isto não ocorre com todos; são só exemplos que demonstram que a ação do suposto "Espírito Santo" nestes moveres produz apenas movimento, e pouca mudança de caráter.

E, finalmente, cheguemos ao texto de Jo 4 e esclareçamos que não se trata de qualquer menção ao reteté! Basta ler calmamente para compreendê-lo, e ver que Jesus nem mesmo profetizava sobre a vinda do Espírito Santo! Jesus explica à Samaritana não sobre A FORMA DE ADORAÇÃO, mas sobre O LOCAL ADEQUADO DE ADORAÇÃO; é só ver o contexto, e se percebe que Jesus está na verdade respondendo à pergunta da mulher sobre qual o lugar mais adequado de adorar: “Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.(Jo 4:19-20), Fazendo uma paráfrase, ela disse: "os judeus dizem que o lugar de adoração tem que ser Jerusalém, e nós, os samaritanos, dizemos que é neste monte; o Senhor, que é profeta, o que me diz?". Jesus responde que em breve adorariam em espírito e em verdade, ou seja NEM EM JERUSALÉM E NEM NO MONTE SOMENTE, MAS EM QUALQUER LUGAR. Não fala de modo de adoração, mas da universalidade da adoração, sem locais privilegiados, seja o monte, seja o templo.

Adorar em espírito e em verdade é adorar no meu quarto, no leito do hospital, na cela da cadeia, num busão lotado, num carro que trafega em alta velocidade pela rodovia, num submarino que navega em regiões abissais, num avião que voa na estratosfera, no ônibus espacial que vaga pelo espaçol! E não no reteté.

Mas pensando bem... Na verdade, o NT fala do reteté, sim!!...


A esse, cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça, para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E, por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2 Ts 2:9-12).

E o AT também!

Saul, cujo Espírito de Deus já tinha abandonado, caiu no poder!

"E ele [Saul] também despiu os seus vestidos, e ele também profetizou diante de Samuel, e esteve nu, por terra, todo aquele dia e toda aquela noite; pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas?” (1 Sm 19:24). Vejam que nem precisa ser o Espírito de Deus, para que o reteté aconteça!

SOLA SCRIPTURA!

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

CESSACIONISMO

Enquanto alguns Cessacionistas afirmam que o Continuísmo (ou Pentecostalismo) é uma das maiores heresias da Igreja evangélica moderna, um leitor sincero das Escrituras pode facilmente observar que na verdade o Cessacionismo é que se trata de um dos primeiros e mais perigosos casos de pragmatismo da história da Igreja, pois baseia sua doutrina não no que está escrito de forma clara nas Escrituras neotestamentárias, mas nas evidências históricas do desaparecimento dos dons no segundo século, ou seja, na EXPERIÊNCIA. 

O "perigo" a que me refiro está no fato de que cristãos reformados, que geralmente apresentam maior equilíbrio doutrinário e observância escriturística, abominando toda e qualquer forma de pragmatismo, adotaram uma doutrina pragmática, abrindo mão de qualquer coerência relacionada com o princípio reformado do SOLA SCRIPTURA, desprezando textos bíblicos muito mais claros que os que são usados para desmoralizar o Continuísmo...

São poucos os textos bíblicos que supostamente embasam o Cessacionismo. Eis os principais:

E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão. Ora o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu, e assentou-se à direita de Deus. E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram” (Mc 16:17-20).

O amor nunca falha, mas, havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; Porque em parte conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado” (1 Co 13:8-10).

Havendo Deus antigamente falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós, falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho” (Hb 1:1).

A lei e os profetas duraram até João” (Lc 16:16).

Toda a Escritura, divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.” (2 Tm 3:16-17).

O texto da carta aos Coríntios é o mais usado, embora seja de não muito fácil entendimento; ou seja, o texto não é claro e nem conclusivo. Usá-lo para desmerecer o Continuísmo é equivalente a usar o texto de 1 Co 15:29 para justificar a doutrina mórmon de batismo por procuração em nome dos mortos, ou usar o texto de Jo 3 para justificar a reencarnação, como fazem os espíritas. É criar doutrina baseado em texto isolado de seu contexto, prática que a boa teologia desmerece e não incentiva.

Há muitos autores sérios que são adeptos do Cessacionismo, os quais respeito profundamente no universo da boa teologia. Já tive a oportunidade de ler alguns, a grande maioria homens sérios e bem intencionados teologicamente falando. Entretanto, lamento profundamente que os mesmos apresentem farta e bem elaborada argumentação lógica, mas não baseiem tal argumentação com TEXTOS BÍBLICOS NEOTESTAMENTÁRIOS que deem lastro sólido às suas crenças.

A doutrina do Espírito Santo para a Igreja evidentemente precisa se basear em textos do Novo Testamento, pois o Espírito só foi concedido após a implantação da Nova Aliança e a formação da Igreja. Querer embasar a pneumatologia da Nova Aliança com textos veterotesmanentários é como querer compilar um manual de uso de computador com textos de Galileu Galilei! A falta de base neotestamentária sólida, portanto, torna a doutrina cessacionista um exemplo de pragmatismo e eisegese sem tamanho! Como eu costumo dizer, há mais textos que afirmam ou transparecem a triunidade divina do que a cessação dos dons ao fim do primeiro século! E como eu sou adepto do princípio reformado do "Sola Scriptura", não me convenço com meros argumentos. Quero base bíblica! Estaria eu errado em pedir aos Cessacionistas o que peço igualmente aos "neopentecostais": que embasem suas crenças e práticas com textos bíblicos??

A Reforma Protestante se baseou em Cinco Solas, e todo cristão reformado tem estas Solas como um resumo de fé e crença. Dentre elas, temos o SOLA SCRIPTURA, ou só a Escritura, que demonstra claramente que o Protestante tem a Escritura como MAIOR autoridade e ÚNICA fonte de doutrina, regras e condutas da Igreja. Ou seja, diferentemente do Catolicismo, aonde os dogmas e decisões papais são superiores às Escrituras, NADA, absolutamente nada é superior a elas para os Protestantes! Não que não haja fontes externas, mas que todas estas fontes externas estão absolutamente submissas às escrituras. Não há doutrina que não precise, obrigatoriamente, ser baseada nas Escrituras, e somente nelas! Eis a pedra de tropeço do Cessacionismo: não há base bíblica neotestamentária clara para seus postulados! Abraçá-la e confessá-la, é praticamente um abandono deste princípio pétreo dos Reformados!

A Escritura É e SEMPRE SERÁ superior a qualquer Concílio, Confissão ou Credo! Não é porque um Reformador afirmou a cessação que vou considerar a palavra do Reformador superior à Escritura! Nenhum Reformador, por mais ilustre, por mais usado que tenha sido por Deus, por mais erudito, é dotado de infalibilidade. A Escritura é-lhes superior, e a tudo o mais, e em momento algum vejo ela citar de forma clara e inequívoca qualquer cessação de dons no fim do primeiro século!

É importante frisar que o Cessacionismo não afirma que TODOS os dons cessaram, mas apenas os dons revelativos ou de poder, como os dons de profecias, línguas e curas. Embora não creiam no DOM de curas, jamais deixaram de crer na cura divina. Em suas Igrejas, ou em seu dia-a-dia, oram pelos enfermos e esperam a cura com fé, submetendo-se à vontade soberana do Senhor.

Embora eu respeite muito os cessacionistas (tenho muitos amigos cessacionistas, e confesso que me dou melhor com eles do que com muitos que se dizem "pentecostais") e até entenda algumas das razões de sua crença, não me inclino a crer na cessação, e uma das principais razões é porque algumas perguntas óbvias não me são respondidas satisfatoriamente pelo cessacionismo:

1. A Escritura afirma que Deus concedeu os dons à Igreja para sua EDIFICAÇÃO, repetindo tal informação pelo menos por quatro vezes no capítulo 14 de 1 Coríntios (vv 3, 5, 12 e 26). A despeito disto, os adeptos da cessação afirmam que "os dons que cessaram não promove mais nenhuma edificação à Igreja". Como chegaram a tal conclusão, antagônica ao texto sagrado? Crer na cessação de alguns não seria uma forma de negar o que está escrito claramente em detrimento de especulações? Aonde, NA ESCRITURA (lembram do Sola Scriptura?), está claramente escrito que em dado momento certos dons não serviriam mais para edificação, e por isso cessariam?

2. Os dons desapareceram no segundo século por vontade de Deus, ou porque os homens extinguiram o Espírito, como próprio Paulo previu e preveniu a Igreja a lutar contra este acontecimento (1 Ts 5:19)? Não creio que tal desaparecimento tenha se dado por vontade ou propósito de Deus, pois Ele não deixou tal propósito claramente exposto na própria Escritura; pelo contrário, quando nos adverte que não devemos extinguir o Espírito deixa-nos transparecer que é o HOMEM, e nunca Ele, quem promove qualquer cessação!

3. A Escritura realmente afirma que “havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá” (1 Co 13:8), deixando claro que haverá uma cessação dos dons. Isso é inegável, e os próprios Continuístas admitem que um dia haverá uma cessação. Mas aonde a Escritura deixa claro que se dará tal cessação ao término do primeiro século? Aonde afirma que isto se dará com o fechamento do cânon? Aonde encontramos base clara para tais afirmativas? Observem, não peço questionamentos, argumentações e dissertações. Peço base bíblica! Coisa simples.

4. Por que a cessação dos dons extraordinários se deu com a morte do último apóstolo? Isto só teria base se apenas os apóstolos apresentassem os dons, o que a Escritura demonstra claramente que não... Paulo orienta os crentes comuns de Corinto a buscarem os melhores dons, principalmente o de profecia, embora não houvesse apóstolos entre eles, o que deixa claro que os dons de revelação não eram exclusividade dos apóstolos, mas de todo e qualquer crente! A própria Escritura menciona pessoas que não eram apóstolos que profetizavam (At 21:4, 8-11). A própria história mostra inclusive cessacionistas, como por exemplo Spurgeon, sendo usados por Deus em dons que eles mesmo afirmavam haver cessado!

5. Como podem os Cessacionistas afirmar com tanta certeza que a vinda do "perfeito" citado em 1 Co 13:10, o marco da época do desaparecimento dos dons, é o fechamento do cânon neotestamentário? Há base bíblica clara para tal conclusão? Por que o "perfeito" é o cânon, e não JESUS, na Sua vinda? Qualquer leitor sincero das Escrituras observará que não há em lugar algum do NT qualquer indício que aponte que a vinda do perfeito seja o fechamento do cânon. Entretanto, em 1 Co 1:7 Paulo afirma algo que dá para associar com a vinda do "perfeito":  “de maneira que nenhum dom vos falta, enquanto aguardais a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo”. Eis o Perfeito que está por vir, e que cessará, com a Sua vinda, todos os dons: JESUS CRISTO. Aliás, quem ler McArthur, um dos mais ferrenhos e apaixonados detratores do continuísmo, verá que NEM ELE acredita que o "perfeito" seja o fechamento do cânon. Nem Calvino, em seu comentário a 1 Co 13, afirma que seja o cânon!

6. O texto de 1 Co 13:8-10 diz que “havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará ... porque em parte conhecemos e em parte profetizamos”, e acrescenta que “quando vier o perfeito, o que é em parte será aniquilado”. O que é que é "em parte" que será aniquilado? O conhecimento, ou a profecia? A ciência, ou as línguas?  E por que estas, e não aquelas? E qual o critério de se definir o que cessará e o que permanecerá?

7. Em relação a “quando vier o que é perfeito”, o próprio texto afirma que “agora, vemos por espelho, em enigma, mas, então [quando chegar o Perfeito, e cessarem os dons], veremos face a face; agora conheço em parte, mas, então, [quando o perfeito chegar] CONHECEREI COMO TAMBÉM SOU CONHECIDO” (1 Co 13:12 - grifos e colchetes meus, para melhor compreensão). Pergunto: quando o cânon se fechou no fim do primeiro século e os dons cessaram pela chegada do "perfeito", chegamos a esta plenitude de conhecimento anunciada pelo próprio texto em questão, a ponto de conhecermos a Deus no mesmo nível que somos conhecidos por Ele? Este nível de conhecimento é possível nos dias de hoje, mesmo com o cânon devidamente fechado? Pelo contrário, observamos o cânon devidamente fechado, a Bíblia, na mão de cinco ou dez pregadores diferentes, e observamos que muitas vezes eles se contradizem entre si a respeito da verdade teológica...

8. Como se pode afirmar com tanta convicção que “os sinais seguirão os que creem” (Mc 16:17), mas só seguirão OS PRESENTES naquele evento (há argumentos que a palavra foi dirigida só aos presentes!), ou só seguirão no primeiro século, e não mais seguirão nos demais séculos, se tal informação não está clara no texto? Aonde a base bíblica neotestamentária, indicando claramente em qual(is) época(s) os sinais seguiriam os que cressem? Sem base bíblica, isso me parece puro pragmatismo, pura observação de evidências... O mesmo que fazem os neopentecostais... Ou não?? 

9. Não são os reformados que afirmam que "o que a Bíblia não fala com clareza, não pregue com firmeza"? Ora, concordamos completamente com esta afirmação, mas parece-me que há mais clareza no ensino dos dons espirituais do que no ensino da cessação!! Há mais textos bíblicos que apontam  e embasam a doutrina da Trindade, doutrina difícil de se compreender e de revelação velada nas Escrituras, do que para o Cessacionismo! Há muito mais material bíblico neotestamentário que depõe a favor da continuidade dos dons do que contra!! São TRÊS CAPÍTULOS completos na primeira carta aos coríntios (12-13-14) e outros textos em outras epístolas, ensinando pormenorizadamente sobre os dons e doutrinando a Igreja para usá-los de forma adequada. Por que então tanta "firmeza" em pregar a cessação, quando a Escritura ensina com muito mais firmeza e clareza o continuísmo?? 

10. Segundo o Cessacionismo, nem todos os dons desapareceram, mas somente os revelativos e os de poder (línguas, profecias, milagres, curas...). Baseados em quê, na Escritura, eles afirmam que o dom "A" desapareceria e o dom "B" não, ou que tal classe de dons cessaria e outra classe não?? Espero base bíblica, e não base pragmática!

11. Se os dons foram cessando com a proximidade da morte dos últimos apóstolos (à medida que estes envelheciam e o cânon era fechado), e uma das evidências disto segundo o Cessacionismo foi o fato de Paulo não conseguir mais curar a Timóteo ou a Epafrodito, como então Paulo conseguiu curar todos os enfermos da ilha de Malta, já perto do fim de sua vida (At 28)? A incapacidade de Paulo curar seus companheiros de ministério demonstra a CESSAÇÃO do dom de cura (cura esta que até os cessacionistas afirmam ser possível através da oração, independentemente do DOM DE CURA!), ou a SOBERANIA, a VONTADE DE DEUS de curar ou não um doente?

12. Se a Nova Aliança é ETERNA, se a fé foi dada aos santos de uma vez (Jd 3) e disposta no cânon neotestamentário, o que leva alguém a crer que CERTAS PARTES da Escritura neotestamentária não têm mais validade para nossos dias, mas só valeram nos primeiros anos da Igreja? É isso mesmo, ou é CONVENIÊNCIA, para excluir da doutrina aquilo que não nos é interessante ou conveniente?

13. O que levaria o Espírito Santo a inspirar textos como 1 Co 12-14 e colocá-los na Escritura neotestamentária, para meio século depois estes mesmos textos deixarem de valer? Aprendi em teologia que só foi possível substituir-se a Antiga Aliança após o estabelecimento da Nova Aliança, e somente assim pode-se tornar desnecessários e nulos todos os cerimoniais da Lei... Qual "Novíssima Aliança" foi estabelecida ao fim do primeiro Século que justificaria a anulação da pneumatologia da Nova Aliança, conforme disposta nas cartas paulinas, mormente 1 Coríntios?

14. Os cessacionistas dizem que "os dons extraordinários do Espírito Santo já não são mais necessários como no tempo dos apóstolos, e cessaram desde então". Mas, com que base bíblica os tais fundamentam tal declaração? Em que lugar da Escritura se afirma que em dado período da Igreja os dons, ou alguns deles, se tornariam desnecessários? Ou isso foi deduzido por lógica pragmática? Enquanto a Escritura afirma claramente que os dons, todos eles, foram dados à Igreja para sua EDIFICAÇÃO, os Cessacionistas afirmam que não são mais necessários, não mais edificam!! E isto sem qualquer base neotestamentária sólida!

15. Por que os Cessacionistas confundem DONS DE PROFECIA com o que eu particularmente chamo de "DOM DE INSPIRAÇÃO CANÔNICA"?

Quanto a este item, preciso fazer algumas considerações:

Há uma abissal diferença entre REVELAÇÃO (através de dons revelativos, como a profecia) e a INSPIRAÇÃO para escrever a Palavra de Deus, e é exatamente esta diferença que o Cessacionismo desconhece ou busca desconhecer para não admitir seu erro de gênese. Não podemos jamais confundir DONS REVELATIVOS com a capacidade extraordinária de ESCREVER O TEXTO INSPIRADO; a própria Escritura relata profetas que nunca escreveram UMA ÚNICA LINHA de texto inspirado, canônico! Entre estes que profetizaram (e tiveram suas profecias ou sua condição de profeta relatadas no texto inspirado) podemos citar no NT Ágabo e as filhas do diácono Felipe (At 21:8-11), que embora fossem profetas nunca produziram uma única linha de texto inspirado, nunca foram autores de nenhum livro neotestamentário. Seria muita ingenuidade pensar, por exemplo, que o ministério profético de OBADIAS tenha durado apenas algumas horas, tendo em vista que sua produção canônica foi de apenas um capítulo! O que durou um capítulo foi sua inspiração canônica veterotestamentária, mas certamente seu ministério como profeta perdurou por muitos anos! O mesmo se dá com Judas, o irmão do Senhor, cuja produção canônica neotestamentária se resume a um capítulo, mas é perfeitamente possível que Judas nem tenha sido usado por Deus em dons proféticos! Podemos concluir que a inspiração da Escritura (que se encerrou definitivamente com o Apocalipse; isto nenhum Continuista sério nega!) e o dom de profecia são coisas diferentes, o material inspirado (canônico) é absolutamente superior a qualquer profecia.

A INSPIRAÇÃO, indiscutivelmente, cessou no fim do primeiro século, com o fechamento do cânon, e nada mais pode ser-lhe acrescido. Os dons revelativos, entretanto, perduram até os nossos dias, e perdurarão durante todo o período em que a Igreja esteja na terra, sem, contudo, ter qualquer poder de gerar texto inspirado, criar ou revogar doutrina, acrescer ou decrescer o conteúdo da Escritura. Nenhum pentecostal sério considera uma profecia como superior, e nem mesmo em patamar igual ao texto inspirado. Os dons revelativos são inferiores à Escritura, e a ela estão sujeitos! Em nenhum lugar do NT uma profecia foi motivo de doutrina! As doutrinas da Igreja foram produzidas por INSPIRAÇÃO. Logo, a função das profecias, desde o dia de Pentecostes até os dias de hoje, não é doutrinar ou acrescer novas revelações à doutrina, e nem decrescer qualquer texto canônico (o que me parecem fazer os cessacionistas, querendo nos fazer acreditar que o texto A, B e C são somente válidos para o primeiro Século da Igreja), e sim no máximo trazer luz ao texto da Escritura!

16. Qual o critério para compreendermos que o texto A da Escritura neotestamentária é válido para nossos dias, e o texto B só valeu para a época dos apóstolos? De onde depreendemos isto, senão do pragmatismo do segundo século?

17. Se Deus antigamente usava profetas para falar aos homens, e com o advento do Filho passou a falar unicamente através dEle, como bem fala o texto de Hb 1:1, e tal texto depõe a favor do Cessacionismo, como é que nos tempos pós-ascensão do Filho o Espírito Santo continuou a falar através dos profetas, até o fim do primeiro Século? Após o Filho, não cessou o ministério profético? Como se justifica, então, que após a ascensão do Filho ainda tenham se levantado profetas como Ágabo, as filhas de Felipe e outros mais, citados no texto canônico? Igualmente, se "os profetas duraram até João" (Mt 11:13; Lc 16:16) como se explica, APÓS JOÃO, terem surgido estes profetas que já citamos? E por que Paulo orientaria a Igreja a buscar com zelo os melhores dons, "principalmente o de profetizar" (1 Co 14:1), se os profetas duraram até João?

Finalmente, complemento:

Não é porque o pentecostalismo ou o neopentecostalismo tenham erros em sua doutrina ou conduta que a verdadeira e bíblica doutrina continuísta deva ser negada e/ou eliminada.  Não vamos negar e desprezar a Bíblia só porque as Testemunhas de Jeová deturparam seu texto e criaram uma "tradução" repleta de erros; antes, vamos apontar os erros e buscar corrigi-los. Devemos buscar a CURA do corpo, e nunca a EUTANÁSIA.

Paulo encontrou uma bagunça generalizada na igreja de Corinto, com pecados sérios e uso incorreto dos dons. Entretanto, mesmo à vista de tais erros, muitos deles gravíssimos, ele não mandou a Igreja parar com o uso ou a busca dos dons (como provavelmente fariam os cessacionistas diante do quadro da Igreja em Corinto), mas antes os estimulou a BUSCAR NOVOS DONS, MELHORES, sem desprezar os "não-melhores", e os ensinou a usá-los de forma correta! 

Em relação aos textos usados para supostamente confirmar a cessação, faz-se necessário que os cessacionistas não somente elenquem textos bíblicos que supostamente defendam e demonstram sua crença, mas observem o seu contexto histórico e literário, além das dificuldades naturais de interpretação e compreensão dos mesmos! Vejamos:

[1] Usar Hebreus 1 como justificativa para a cessação dos dons é forçar o texto a dizer o que ele não diz, por eisegese! O escritor escreve a judeus, provando-lhes que antigamente Deus falava pelos profetas (Antiga Aliança), e hoje nos fala pelo Filho (Nova Aliança), e neste aspecto em momento algum afirma que os profetas deixaram de existir na Igreja após o nascimento, ou a morte, ou a ascensão do Senhor, e nem após a morte do último apóstolo ou o fechamento do cânon. O livro de Hebreus em si, NÃO TRATA de cessação ou de dons espirituais, e sim da superioridade da NOVA ALIANÇA sobre a Antiga, e do sacerdócio de Cristo sobre o sacerdócio aarônico. O primeiro capítulo deixa isso claro, e o restante do livro não foge a esta regra!

[2] Usar 1 Co 13:8 esquecendo do contexto imediato (vv 9-12) ensina uma falácia (assim como os espíritas usam Jo 3:3 para ENSINAR A REENCARNAÇÃO e os mórmons usam 1 Co 15:29 para ensinar o BATISMO POR PROCURAÇÃO, em nome de um parente falecido, desprezando o contexto literário imediato) e demonstra desprezo com a verdade e com a Escritura. Além do mais, a boa teologia mostra que basear doutrinas e verdades em um único versículo não é prática adequada à sã doutrina.

[3] Usar Mc 16:17-20 e tentar extrair dele a informação que os sinais acompanhariam APENAS as pessoas que faziam parte daquela geração está mais para eisegese do que para exegese! Acreditar que os sinais só acompanhariam aquela geração, ou os presentes à fala de Jesus, é o equivalente a achar que a ordem da Grande Comissão (v 15) também foi uma ordem só para aquela geração, ou para os presentes! Cremos que ambas têm a mesma amplitude, e permanecerão até a vinda do Senhor.

[4] Usar 2 Tm 3:16-17 achando que o mesmo depõe contra o Continuísmo por julgar toda a Escritura proveitosa para o ensino e, por consequência, as profecias não são mais necessárias é querer, por contorcionismo, fazer com que o texto citado concorde com o que acham, sem que o seu contexto queira dizer o que querem que digam. Exatamente o contrário ocorre: ao afirmar que a Escritura é apta para ensino significa também que qualquer profecia proferida de modo a contradizê-la deve ser rejeitada. A Escritura é apta exatamente por isso, pois é ela quem ensina, instrui e doutrina a Igreja e o crente no uso de qualquer dom. O mau uso deste texto depõe contra os cassacionistas, pois os acusa mais uma vez de eisegese.

[5] Usar Lc 16:16 achando que os profetas, e por consequência o dom profético, só existiram até João Batista é desconhecer, ou fingir desconhecer, pessoas que viveram após João Batista, como Ágabo, as filhas do diácono Filipe e outros discípulos cujos nomes não são citados na Escritura (At 21:4, 8-11), mas que foram profetas. Como seria possível ainda, diante do fato de profetas terem durado somente até João, Paulo apóstolo incentivar os coríntios a buscar tal dom (1 Co 14:1-5)? 

Na verdade, o Cessacionismo é uma doutrina embasada em poucos textos isolados, fora de seu contexto e de interpretação duvidosa, aliando-os ao pragmatismo do segundo século. Já que depois da morte do último apóstolo os dons aparentemente cessaram, é melhor crer na cessação, nem que para isto desprezam três capítulos inteiros de 1 Co (12 a 14), nos quais Deus descreve os dons e prescreve a DOUTRINA do seu uso na Igreja, no culto... Interessante isso, eu repito: Deus inspirar três capítulos doutrinários inteiros, para poucos anos depois cessar os dons, declarando tais textos como nulos e inválidos para os futuros vinte séculos de Igreja!

Agora, QUE UMA COISA FIQUE BEM CLARA: muitos dos "dons" apresentados hoje nas Igrejas ditas "carismáticas", mormente as "neopentecostais", não têm qualquer característica de dons do Espírito Santo, e muito menos são de Deus!! E que fique claro igualmente que, mesmo como continuísta que sou, não desprezo ou desmereço meus irmãos cessacionistas. Aliás, prefiro mil vezes um cessacionista sincero, zeloso em não permitir o erro no seio da Igreja, do que um continuísta não bíblico que aceita qualquer manifestação como se fora Deus, sem julgá-las à luz da Escritura e do bom senso (e olha que a igreja está cheia destes últimos!!)!

Uma outra coisa que deve ficar clara: a observação de grupos que se dizem pentecostais mas que não seguem os princípios bíblicos do verdadeiro pentecostalismo, não é um bom padrão para analisar, avaliar e julgar o movimento carismático! Seria o equivalente a desprezarmos a Bíblia porque homens inescrupulosos e apóstatas a deturparam e deturpam, ou desprezarmos a fé protestante por que as Igrejas que a professam estão cheias de erros e de falsos pastores. Bom seria aos que buscam negar o continuísmo que analisem primeiramente os textos bíblicos que tratam dos dons do Espírito, e depois a boa teologia pentecostal, e assim tirem suas conclusões, e não analisando as Igrejas apóstatas e os apóstatas do pentecostalismo ou do neopentecostalismo. Julgar os Carismáticos analisando os apóstatas é tão sábio quanto julgar a Igreja Católica e seu sacerdócio analisando a conduta de padres pedófilos, achando que a pedofilia é a norma e o ensino da ICAR.

A verdade, repetimos o que dissemos nos primeiros parágrafos, é que QUALQUER CRISTÃO que com sinceridade resolver ler o NT verá que não há qualquer embasamento escriturístico para crer ou estabelecer doutrina de cessação dos dons com o fim do 1º Século, com a morte do último apóstolo e/ou com o fechamento do cânon. A Escritura não fala e não sugere isso, exceto por eisegese. Em 1 Co 13 Paulo afirma que haverá, sim uma cessação um dia, mas não há absolutamente nada, exceto por eixegese e forçação de barra, que afirme que se dará no fim do 1º Século. Nem Calvino pensava assim! Como bem nos lembrou o irmão Clóvis Gonçalves, participante do grupo "Calvinistas Pentecostais" no Facebook, “em seus comentários à Primeira aos Coríntios ele [Calvino] diz: O apóstolo poderia ter  posto nestes termos: "Quando tivermos alcançado o ponto de chegada, então as coisas que nos ajudaram no percurso deixarão de existir.” No entanto, ele usa a  mesma forma de expressão anterior, ao pôr  a perfeição em contraste com o que é em parte. Ele está  dizendo: “Quando a perfeição chegar, tudo quanto nos auxiliou em nossas imperfeições será abolido.” Mas, quando tal perfeição virá? Em verdade, ela começa na morte, quando nos despirmos das inúmeras fraquezas juntamente com o corpo; ela, porém, não será plenamente estabelecida até que chegue o dia do juízo  final, como logo veremos. Portanto, desse fato concluímos que é algo em  extremo estúpido alguém fazer toda esta discussão aplicar-se ao período intermediário” (CALVINO, em 1 CORÍNTIOS - pp 406-407).

Basta ler a Escritura com sinceridade e desejo de enxergar a verdade, despindo-se da "lavagem cerebral" a que foi submetido, que qualquer cessacionista enxergará o óbvio. Entretanto, há uma distância abissal entre crer que o continuacionismo é bíblico e crer que o que vemos em muitas igrejas neopentecostais e pentecostais seja obra do Espírito Santo!

segunda-feira, 21 de julho de 2014

A GLÓRIA DA TERCEIRA CASA SERÁ MAIOR QUE A DA SEGUNDA

Vai, e dize a meu servo, a Davi: Assim diz o Senhor: Edificar-me-ias tu casa, para minha habitação? Porque em casa nenhuma habitei, desde o dia em que fiz subir os filhos de Israel do Egito, até ao dia de hoje; mas andei em tenda e em tabernáculo, e em todo o lugar em que andei, com todos os filhos de Israel, falei, porventura, alguma palavra, com qualquer das tribos de Israel, a quem mandei apascentar o meu povo de Israel, dizendo: Por que me não edificais uma casa de cedros? [...] Quando os teus dias forem completos, e vires a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti a tua semente, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino, para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho:” (2 Sm 7:5-7; 12-14)

Em dado momento de seu reinado, Davi percebeu que morava em um castelo luxuoso, ao passo que a Arca da Aliança, símbolo da presença do Senhor no meio do Seu povo, morava em uma tenda. Então, sentiu ardente e sincero desejo em seu coração de construir para o Senhor um templo, uma habitação fixa que substituiria o tabernáculo e centralizaria a nação em volta de Jerusalém. Compartilhou a ideia com um dos seus conselheiros espirituais, o profeta Natã, que a princípio concordou e estimulou-o a por em prática o seu projeto. Deus, porém, não lho permitiu construir tal obra. Obediente, Davi abandonou a execução, mas não o projeto. Separou boa parte do material necessário, e seu filho e sucessor no trono, Salomão, o edificou entre 1000 e 950 aC. Mais tarde, após sua destruição por Nabucodonosor, rei da Babilônia, Zorobabel o reconstruiu, em torno de 550aC. Este templo de Zorobabel foi o templo onde o Senhor Jesus, o Deus Eterno feito carne, pôs seus pés. Daí a glória da segunda casa ter sido maior que a da primeira!
O templo era o centro da religiosidade judaica, símbolo máximo da presença de Deus, pois era lá que Ele habitava. Era o lugar escolhido e designado por Deus para se fazer oferendas e sacrifícios, o local onde a adoração era plenamente recebida pelo Senhor. Isto era bom, pois centralizava-se o culto em um único lugar e evitavam-se erros e excessos. Somente sacerdotes e levitas poderiam participar das cerimônias. Os judeus deveriam peregrinar a Jerusalém e visitar o templo pelo menos uma vez ao ano (esta cultura permanece viva na relação entre os muçulmanos e Meca, e entre os judeus e Jerusalém), quando faziam suas oferendas, pagavam seus votos etc. A ruína do templo que permaneceu de pé após a sua destruição, o Muro das Lamentações, que não fazia parte do templo de Zorobabel, mas foi erguido por Herodes em 20aC como um muro exterior, até hoje é visitado por judeus e cristãos do mundo inteiro, que fazem suas orações e as deixam escritas em papeis, introduzindo-os entre suas pedras. Há histórias (ou estórias) que apontam para a existência, em local secreto, de todo o material necessário para uma rápida reconstrução, quando o povo judeu recuperar a posse do seu terreno original, onde hoje está erguida uma grande mesquita islâmica ― o local é igualmente sagrado para os muçulmanos; dá pra ver a sua importância para as três maiores religiões monoteístas do mundo!
Com o advento de Cristo e a instituição da Nova Aliança no Seu sangue, a função do templo como casa de Deus e o centro da religião deixou de existir, de sorte que hoje cada cristão é templo e morada do Espírito Santo (1 Co 3:16). O próprio Senhor Jesus, questionado pela mulher samaritana sobre o local adequado para se adorar a Deus, mostrou que os locais físicos designados pelos homens e religiões, tais como o monte em Samaria ou o templo de Jerusalém, não se encaixavam na óptica da Nova Aliança: “...a hora vem, em que, nem neste monte, nem em Jerusalém, adorareis o Pai... Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem“ (Jo 4:21, 23). Durante Seu ministério terreno, o Senhor predisse que o segundo Templo seria destruído, e não ficaria pedra sobre pedra (Mt 24:2; Lc 19:41-44), dando a entender de forma implícita que o Cristianismo não precisaria do templo como algo centralizador da Igreja, pois ela seria e estaria sempre centralizada nEle. Vemos, em Atos, que Deus não planejou centralizar os crentes em Jerusalém, próximos ao Templo, mas trouxe sobre eles a perseguição que os espalhou pelos quatro cantos da terra, levando junto consigo a fé e a mensagem do Evangelho.

Lamentavelmente, nem todos querem aceitar esta verdade.
É de entristecer a decisão de uma grande denominação “não-evangélica” (eles mesmos afirmam que não são evangélicos, e eu concordo inteiramente com eles ― a bem da verdade, acho difícil reconhecer alguns que fazem parte desta seita como cristãos, mormente seus líderes!) de construir uma réplica exata do templo de Salomão em São Paulo. A meu ver, além de ser uma obra que retrata muito mais um sonho de megalomania, trata-se de uma afronta a Deus e à Igreja.
Não há nas Escrituras qualquer solicitação ou orientação para que a Igreja erga templos ― e o bom senso complementa que o mesmo se aplica muito mais a templos suntuosos. Ao contrário, o Cristianismo começou (e deveria ter continuado!) de forma simples: as igrejas (o povo) se reuniam nas casas. Até dá para compreender que se construam casas dedicadas exclusivamente para o culto a Deus, adaptadas para esta necessidade, mas para que a ostentação de grandes obras, tão comuns em todas as denominações atuais ― cada uma querendo fazer um templo maior e, mais luxuoso que o do "concorrente"! ― quando o que Deus sempre pediu foi a simplicidade? Posso compreender que devemos buscar fazer o melhor para nosso Deus. O próprio Salomão, ao construir o primeiro templo, afirmou a Hirão,  rei de Tiro, que “a casa ... há de ser grande; porque o nosso Deus é maior do que todos os deuses” (2 Cr 2:5). Entretanto, fazer o melhor para Deus significaria esbanjar uma fortuna incalculável, desprezando as Escrituras, única regra de fé e prática para a igreja, que não prevê nem pede qualquer construção de templos suntuosos para cultuar a Deus?
E por que exatamente a réplica de um templo cujos sacrifícios cessaram e não mais são exigidos na Nova Aliança, já que o sacrifício final e suficiente do Cordeiro de Deus já foi realizado? E como é que os apóstolos não tiveram uma ideia destas? Se o próprio Mestre havia-lhes dito que o templo de Jerusalém seria destruído, não ficaria pedra sobre pedra, por que não utilizar o dinheiro que era depositado aos seus pés para construir um novo templo, desta vez dedicado ao Senhor Jesus Cristo? Por que não unificar a Igreja, erguer um monumento à altura do Messias e da nova doutrina que Ele veio implantar? A resposta é simples: os apóstolos não fizeram assim por uma questão de prioridades!
Na igreja primitiva, a prioridade era o crente. Hoje, a prioridade é a seita, a religião, a liderança, a ostentação e o orgulho pessoal. Para os apóstolos, ao invés de se construir obras suntuosas era muito mais importante sustentar os irmãos mais pobres, e era para esta finalidade que esta fortuna depositada aos seus pés era destinada. Quem ler o livro de Atos, as cartas paulinas e até alguns livros não canônicos da época da Igreja Primitiva verá que a forma de tratar o dinheiro das ofertas era completamente diferente da forma como as “lideranças” do nosso tempo adotaram!
Promover e defender a construção de um “templo” nestas características (idêntico ao templo de Salomão) e com estes propósitos ("unificar" a igreja — a denominação! — ou promover-se como "A Igreja") parece ser muito mais que um sonho megalomaníaco; parece ser um desconhecimento total das Escrituras, da vida primitiva da Igreja, das prioridades no uso dos dízimos e ofertas, da realidade financeira do povo, do descaso com o dinheiro doado (é fácil gastar o dinheiro que não nos pesa no próprio bolso; na minha terra, chama-se isso de "atirar com a pólvora alheia"). Parece-nos a atitude dos filhos de Eli, que "desprezavam a oferta do Senhor" (1 Sm 2:17) usando-a em coisas fúteis.
É finalmente desconhecer e negar que o verdadeiro templo de Deus é cada crente, de forma individual. Parece ser uma forma muito "criativa" e justificável de mostrar que é a igreja mais rica, a melhor, a maior, a mais próxima de Deus. Mas como Laodicéa, o que esta construção demonstra na verdade é a desgraça, miserabilidade, cegueira, pobreza e nudez de quem edifica.
A igreja dos tempos apostólicos reunia-se nas casas, e nos tempos de perseguição em lugares escusos. A presença do Espírito Santo em Seu santo templo, o crente, era tão real que chegaram a se reunir em lugares considerados imundos pelos frequentadores do templo: as catacumbas de Roma. Estes sepulcros, que a lei proibia contato e proximidade sob pena de se tornar-se o homem imundo, não tornavam os genuínos templos do Senhor imundos diante dEle.
Somente com a apostasia romana os cristãos passaram a construir e supervalorizar templos feitos pelas mãos humanas, construindo prédios suntuosos e cheios de riqueza e opulência — o antagonismo do verdadeiro Cristianismo. Catedrais e basílicas recobertas de ouro foram edificadas em honra Àquele que nasceu em uma manjedoura e entrou na Cidade Santa montado em um jumentinho. É incrível, mas ninguém percebe que desde a lei mosaica Deus mostra que habita na simplicidade, que deve ser adorado na simplicidade, que as obras humanas não podem alcançá-lO, e nada o homem pode fazer para construir altares para a adoração, senão usando os elementos simples deixados pelo próprio Deus: "Um altar de terra me farás, e sobre ele sacrificarás os teus holocaustos e as tuas ofertas pacíficas, as tuas ovelhas e as tuas vacas, em todo o lugar onde eu fizer celebrar a memória do meu nome, virei a ti e te abençoarei e, se me fizeres um altar de pedras, não o farás de pedras lavradas: se sobre ele levantares o teu buril, profaná-lo-ás"  (Êx 20:24-25).
A própria construção do templo de Salomão parece ter sido um equívoco, mas que Deus tolerou. A prova que Deus não pedira nem aceitara os planos de Davi para construir o templo é que Ele disse a Salomão: "Ouvi a tua oração, e escolhi para mim este lugar, para casa de sacrifício" (2 Cr 7:12). A tolerância divina se deu após a oração de Salomão, e não na ocasião que Deus falara com Davi! Graças a esta tolerância, o Senhor abençoou o templo e prometeu habitar naquele lugar. Leiam-se os textos que narram o desejo de Davi em construir o templo e a resposta enviada por Deus ao rei por intermédio de Natã (2 Sm 7:1-17; 1 Cr 17:1-15). Eles deixam claro que Deus nunca pediu e nem estava pedindo e muito menos autorizando a construção de um templo, pois ele sempre habitou na simplicidade das tendas, peregrinando entre as tribos, seguindo junto com o povo nas suas batalhas. Deus disse que somente após a morte de Davi seria levantado “o descendente” (2 Sm 7:12-14), e Este, somente Este, seria capaz de erguer o Templo e estabelecer o Reino para sempre. Evidentemente, Deus se referia a Jesus, mas Davi entendeu que Ele, o Senhor, falava de Salomão, e fez todos os preparativos para que o seu sucessor promovesse a construção do templo.
Os textos em questão não tratam da autorização divina para a construção do templo por Salomão. Deus na verdade estabelece com Davi uma aliança que se cumpriria na Semente de Davi que se levantaria APÓS a sua morte, ou seja, no Messias, e não em Salomão. É só ler para perceber: "Quando os teus dias forem completos, e vires a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti a tua semente, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino, para sempre...." (2 Sm 7:12-13). Lendo as Escrituras é fácil perceber que o reinado de Salomão não foi confirmado para sempre, pois cessou por ocasião da destruição do Reino de Judá por Nabucodonosor. Somente quando Jesus consumou Sua obra e edificou a Igreja, o verdadeiro templo foi edificado, e o reinado de Davi estabeleceu-se nEle, em Cristo, para sempre. Não era a toa que Jesus era chamado por todos de "o Filho de Davi", ou seja, o Descendente em quem se cumpririam todas as promessas! Este Filho de Davi, o Messias, Ele construiria o Templo verdadeiro!

Este templo, construído pelo Filho de Davi, é a Igreja, e mais precisamente cada crente, de forma individual. Isto foi confirmado depois por Paulo, apóstolo aos gentios, quando disse: "Não sabeis vós que sois o templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? " (1Co 3:16 - veja também 1 Co 6:19; 2 Co 6:16).
Um dos interesses de Jesus durante Seu ministério foi mostrar aos seus seguidores que o templo não tinha função para a Nova Aliança que ele estabeleceria. Já na conversa dEle com a mulher samaritana, indagado acerca do local adequado para a adoração a Deus deixa claro que templo algum, ou qualquer elemento visível seria o referencial da adoração. “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.  Quando foi abordado por um grupo de apóstolos admirado com a construção magnífica do templo, mostrou indiferença e deixou claro que tudo aquilo seria destruído, aniquilado. Ponto final.
Alguém vai me dizer que os apóstolos frequentavam o templo. Sim. Eles eram judeus, e como tal iniciaram a pregação do Evangelho de Jesus pelo templo e pelas sinagogas. Mas basta ler o livro de Atos para perceber que eles eram persona non grata naquele ambiente. Pedro e João, a partir de milagres e pregações feitas no templo foram presos e chicoteados; Paulo foi preso no templo. Paulo, em dado momento de seu ministério de pregação nas sinagogas, percebeu que estava jogando pérolas aos porcos e abandonou o ambiente. O templo e as sinagogas deixaram de ser ambientes onde os cristãos eram bem recebidos. Tudo por plano e providência divinos, a fim que que a Igreja tomasse seu próprio rumo, longe do Judaísmo, de suas liturgias e objetos/ambientes de culto. 
Permitam-me algumas colocações, para encerrar meu artigo:
Primeiro, a destruição do templo físico de Jerusalém, de forma inexorável, foi determinada por Deus, e ajudou em muito a compreensão da Igreja primitiva da inutilidade de templos físicos para a Nova Aliança, pelo menos nos padrões e nos valores que o templo tinha perante a Antiga Aliança. Jesus afirmou que não ficaria pedra sobre pedra, juízo que  se cumpriu de forma literal, indicando total destruição de um símbolo que perdera sua razão de existir.
Segundo, a igreja desde o primeiro século precisava se desapegar do templo judaico, pois ele não mais pertencia à igreja, mormente à igreja gentílica. Paulo jamais orientou a igreja dos gentios a peregrinar a Jerusalém, até porque era proibido aos gentios entrar no templo, coisa que profanaria o lugar sagrado (At  21:28). Se eu ou você, crentes gentios, quisermos conhecer Jerusalém, podemos fazê-lo como turistas, mas devemos respeitar o Templo, elemento sagrado da religião judaica; nossa presença aos olhos deles é muito mais profanação do que honra! Sua destruição fez com que os crentes de Jerusalém se espalhassem pela terra, pregando a palavra a todos. Deus não tem interesse em unificar cristãos através de um templo, mas espalhá-los em prol da mensagem do Evangelho, para que eles espalhem as boas novas da salvação.
Terceiro, a ideia desta “grande igreja” em reconstruir o templo como sinal de unificação da Igreja nada tem a ver com tal unificação, pois isto verdadeira e unicamente se dá com a unificação da doutrina, num retorno à Doutrina dos Apóstolos. Analisadas as doutrinas e práticas desta denominação, vemos que elas estão muito distantes desta doutrina primitiva, Lamentavelmente eles preferem os atalhos ao verdadeiro caminho quando dizem: "unifiquemos a igreja através deste templo, pois é mais fácil e menos custoso que reconhecer nossas décadas de erro e que conduzir o povo à sã doutrina".
Quarto, chama a minha atenção nas Escrituras a última vez que os homens resolveram edificar algo que os tornassem poderosos, logo após o dilúvio. O texto sagrado afirma que eles "...disseram: eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre, cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra" (Gn 11:4 - grifo meu). Este parece ser o maior objetivo desta "denominação não-evangélica": estabelecer um nome, tocar o céu, criarem para si uma fama diante da humanidade e das demais denominações, evangélicas e não-evangélicas.
Quinto, esta réplica parece-me ser mais uma das muitas afrontas feitas pela igreja contra objetos sagrados da religião judaica. Hoje, utiliza-se indevidamente o shophar em muitas igrejas "evangélicas". Já ouvi histórias de igrejas que constroem altares de incenso e mesa de pães da proposição (com direito aos pães na mesa!). Em outras, profana-se até a arca da aliança, criando réplicas, tomando-as nos ombros e fazendo verdadeiras "procissões" dentro da igreja, incentivando pessoas a tocarem nelas, desconhecendo a proibição explícita de Deus para tocar neste objeto. Leia-se a história de Uzá (2 Sm 6:1-11), e poderão constatar que a desobediência de tocar na arca era punida com a morte, mesmo quando o transgressor tivesse a melhor das intenções... Agora, parece que não se contentaram em profanar só alguns objetos, mas o farão com o templo inteiro, e com todos o conjunto de seus objetos...
Sexto, este terceiro templo parece-me um cumprimento das Escrituras, quando retratam o Anticristo e sua manifestação. Paulo, apóstolo, afirma que “...o homem do pecado, o filho da perdição... se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2 Ts 2:3-4). Taí a grande oportunidade de alguém fazer da Terceira Casa um local tão grandioso e tão magnífico que a sua glória excederá as duas casas anteriores, substituindo-as. Talvez o próprio construtor se assente nela, fazendo o papel do Anticristo, ou permita que ele se assente! É grande a possibilidade de o Anticristo se aproveitar desta "casa" para disseminar seu ódio ao verdadeiro Deus, e um dos passos para que isto ocorra é aniquilar os ensinamentos do Cristo, transformando-os em um amontoado de justificativas o retorno à antiga aliança e para a exploração de um povo muitas vezes sincero em sua devoção a Deus, mas que não o faz baseado nas diretrizes deixadas por Deus nas Escrituras, não por culpa dele, do povo, mas de sua liderança, que faz questão de afastá-lo cada dia mais da sublimidade da Palavra de Deus.
À vista de todas estas coisas, eu convoco a todos os cristãos que têm bom senso e creem nas Escrituras a não darem crédito nem atenção a este templo de araque. Ignorem-no! Aqui onde eu moro a mesma "denominação" construiu uma catedral imensa, a maior do Estado, na principal avenida da capital, e quando passo em frente faço de conta que nem a vejo! Não posso enxergar como catedral ou templo um espaço físico suntuoso onde as Escrituras são diuturnamente espezinhadas com práticas, doutrinas e costumes que a negam (Tt 1:16).
O templo verdadeiro sou eu, é você, é aquele em quem o Espírito Santo habita verdadeiramente. Os demais são só um amontoado de pedras, tijolos e cimento, no máximo são a casa onde a Igreja se reúne. Esta réplica é somente um altar de pedras lavradas, sobre as quais o homem imundo e pecador levantou seu buril, profanando-as. Certamente o Senhor não atentará para tal edificação, antes “Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles” (Sl 2:4). Duvido que a glória que encheu a primeira Casa, e o Filho de Deus que pisou na segunda, estejam presentes na terceira! O Anticristo, não duvido que estará!
Belas foram as palavras de Estêvão: "...Salomão lhe edificou casa; Mas o Altíssimo não habita em templos, feitos por mãos de homens, como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis? diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Porventura não fez a minha mão todas estas coisas? Homens de dura cerviz, e incircuncisos de coração e ouvido..." (At 7:47-51). No dia que as pronunciou, foi apedrejado pelo que disse.

(artigo escrito em 2012, ainda no início da construção do tal "templo")