terça-feira, 8 de novembro de 2011

NÃO OFEREÇA O SEU "I$AQUE"!

Pr. Ciro Sanches Zibordi - adaptado-coletado no  BLOG DO CIRO

Falo por parábola.

Um famoso conferencista brasileiro foi convidado para ministrar a Palavra durante três noites em um congresso de jovens de uma grande igreja. Muito eloquente e persuasivo, ele resolveu discorrer sobre a obediência de Abraão ao atender à surpreende ordem divina: “Toma agora o teu filho, o teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai ao Moriá; e o oferece-o ali em holocausto sobre uma das montanhas, que eu te direi” (Gn 24.2).

O "conferencista internacional" fez uma “contextualização descontextualizada”, muito comum em nossos dias, e resolveu chamar Isaque de “a melhor oferta”. “Isaque era o único filho de Abraão. Era o que ele tinha de mais importante nesta terra. Pergunte para o seu irmão: ‘O que você tem de mais importante nesta vida? Qual é a sua melhor oferta?’” — afirmou o pregador, na primeira noite. Ao mesmo tempo que mencionava a fidelidade de Abraão, ele contava experiências de pessoas que deram tudo o que tinham e prosperaram financeiramente.

Na segunda noite, o pregador foi ainda mais claro: “Você mora de aluguel? Esse é o seu Isaque! E você precisa sacrificá-lo! Ofereça-o! Você é um empresário? Entregue todo o lucro deste mês, pois esse é o seu Isaque. Você está economizando dinheiropara uma viagem,ou para a compra de algo que deseja muito? Este é o seu Isaque! Entregue-o para Deus! Não questione! Obedeça o profeta de Deus, e você sairá daqui com a sua bênção”.

Tendo mencionado vários “I$aque$”, o pregador lançou um desafio: “Amanhã é o último dia da festa, e eu quero ver quem terá ousadia para entregar o seu Isaque!”. Isso contagiou a todos, e a maioria dos irmãos estava mesmo disposta a dar o que tinha de melhor, financeiramente falando. O pregador dissera que, se alguém não tivesse dinheiro, poderia entregar relógios, alianças, cheques pré-datados, etc. 

Naquela igreja havia um grupo de jovens estudiosos da Bíblia. E um deles estava escalado para dar uma palavra de cinco minutos antes do pregador. Durante o culto, onde muita gente trouxe seu "Isaque" com a fiel intenção de entregá-lo, o pastor da Igreja entregou a oportunidade ao jovem. 

“Saúdo os irmãos com a paz do Senhor”, disse o jovem. “Como tenho apenas cinco minutos para falar, convido os irmãos a lerem comigo Gênesis 22.11,12”.

Depois da leitura, o corajoso jovem discorreu rapidamente sobre Abraão e Isaque e concluiu: “Irmãos, Deus pediu a Abraão que oferecesse o seu filho Isaque em holocausto. Mas isso foi apenas um teste. Ele não aceita sacrifícios humanos. E aprova maior de que tudo não passou de um grande e importante teste, Deus aceitou o sacrifício e Abraão levou o seu Isaque para casa”.

Antes de convidar o famoso conferencista para a sua última ministração, o pastor da igreja — que estava incomodado com o aludido desafio — fez questão de dar mais uma palavra: “Irmãos, como disse esse sábio jovem, Abraão levou o seu Isaque para casa. Isso significa que nenhum de nós precisa oferecer hoje o seu Isaque. Dê a sua oferta, mas faça isso liberal e voluntariamente. Não precisa entregar o dinheiro do aluguel nem a sua aliança, etc.”.

Furioso e com “cara de poucos amigos”, o conferencista mudou o tema da mensagem: “Nesta noite eu quero falar sobre os crentes que tocam nos ungidos de Deus, aqueles que discordam dos profetas. Esses incrédulos sempre terão uma vida miserável, pois não têm coragem de entregar o melhor para mim... Quer dizer, para Deus”.

Diante desta parábola — baseada em várias histórias reais que já ouvi sobre conferencistas de$afiadore$ —, medite em 2 Coríntios 2.17: “Porque nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio Deus”.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CONSIDERAÇÕES SOBRE O "CRESCIMENTO" DA IGREJA BRASILEIRA

Por Fábio Bauab - Adaptado - Coletado em CONSCIÊNCIA E FÉ

A igreja evangélica brasileira tem vivido um período muito peculiar. De um lado verifica-se um aparente crescimento numérico, com verdadeiras multidões afluindo para seus templos. Basta uma rápida olhada nos templos da IURD, da Igreja da Graça e, recentemente, da Igreja Mundial do Poder de Deus para constatar este fato. Porém, de outro lado, verifica-se uma perigosa relativização de valores e princípios doutrinários fundamentados sob as Escrituras Sagradas.

Vamos ponderar, primeiramente, sobre o crescimento da igreja. O fato de vermos grandes concentrações de pessoas em determinadas reuniões não implica, necessariamente, um crescimento real da Igreja de Cristo. Explico porque:

(1) Esta multidão é composta, basicamente, por pessoas em busca de solução para os seus problemas e que foram atraídas pela esperança de uma resposta fácil e rápida. Nem sempre elas são atraídas pela mensagem do arrependimento ou pela mensagem da cruz, mas sim pela expectativa da superação das mazelas, ou seja, estão à procura de milagres. Mas o milagre não substitui a necessidade do arrependimento e do comprometimento. É possível pertencer a uma igreja (denominação) sem passar pelo arrependimento, porém, é impossível pertencer a Igreja (Corpo) de Cristo sem passar pelo arrependimento. O mesmo se dá em relação ao comprometimento. Nas Escrituras, vemos o episódio da cura dos dez leprosos, onde somente um mostra real comprometimento com Jesus. Daí o grande problema em substituirmos a mensagem do arrependimento pelas mensagens motivacionais.

(2) É difícil precisar qual o percentual de pessoas deste grupo permanecem fiéis ao Evangelho ou não. Porém, o dia-a-dia, da atividade pastoral mostra que muitos ficam pelo caminho. Tenho encontrado algumas pessoas que não frequentam mais nenhuma igreja porque se sentiram lesados, enganados, se decepcionaram com lideranças etc. É uma triste realidade que as igrejas da mídia fazem questão de esconder.

(3) O terceiro elemento a ser considerado nesta análise refere-se ao crescimento qualitativo. Até que ponto esta expressão numérica é revertida em qualidade? Acredito que a probabilidade de que este grupo viva uma vida cristã desprovida dos princípios rudimentares da fé cristã é muito grande. Tudo, nestes movimentos, se resume a espíritos demoníacos, campanhas de libertação e campanhas de prosperidade financeira. Como poderão aprender sobre Amor Incondicional, Perdão que nos conduz a perdoar, Graça Divina? Vivem apenas na superficialidade da fé, não criam raízes profundas. São ensinados que ter fé é receber milagres, mas não são ensinados a desenvolver um relacionamento com Deus que os mantenha firmes na fé mesmo em tempo difíceis. São como as sementes caídas sobre as pedras ou sobre os espinhos: têm vida curta.

(4) Finalmente, um último aspecto que precisa ser destacado é o vetor migratório. Este aglomerado de pessoas não é composto unicamente por não cristãos. Há na sua base um elevado percentual de pessoas já “cristãs”, pertencentes a outras denominações, que em uma atitude de desespero, ou de curiosidade, partem em direção ao foco dos milagres. Assim percebemos que nem sempre este ajuntamento de multidões significa um crescimento numérico real. Aliás, o próprio "apóstolo" Valdemiro incentivava o proselitismo com frases de efeito, tais como: “se na tua igreja não tem poder de Deus, vem pra cá, pois aqui tem a mão de Deus”.

Diante destas considerações eu fico me perguntando: O que estamos vendo neste segmento evangélico é realmente um crescimento genuíno? Penso que não. Na verdade, acredito que esta realidade produz um efeito negativo no processo de evangelização, pois o ser humano tende a se afastar daquilo que um dia lhe causou frustração ou dor. O olhar de desconfiança não é voltado para Deus, e sim, para as instituições religiosas. E infelizmente, nesta hora, todas são colocadas dentro do mesmo saco (usando a expressão popular), não há distinção entre elas.

Estas são as razões que não me permitem compactuar com a euforia de alguns líderes evangélicos quanto ao crescimento da igreja. Acredito que o crescimento autêntico passa pelo crivo da qualidade. Ademais, o crescimento do Corpo precisa ser proporcional e dentro dos padrões da normalidade, assim como em um corpo humano. Nascemos muito pequeninos, crescemos aos poucos e demoramos quase vinte anos neste processo! Todo crescimento desordenado, rápido demais e desproporcional está mais para anomalia, aberração e tumor (câncer) que para crescimento genuíno.

Neste sentido, a declaração do apóstolo Paulo sobre o objetivo da igreja é indispensável: “Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo. Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor” (Ef 4:13-16).